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Quando perguntei ao Santiago se poderia acompanhá-los, dentro de uma proposta fotoetnográfica, ele me largou essa: "mas cartunista tá virando um negócio em extinção, mesmo.. até a Antropologia já tá interessada na gente!" Bom, eu não sou antropóloga. Eu fotografo. E é isso que faço nas reuniões da GRAFAR que acontecem semanalmente no Tutti. E que, como já me foi dito, não se repete em outro lugar nesse mesmo formato, no qual a relação intergeracional e o humor são priorizados.

 

Fotografar o mesmo grupo de pessoas de forma sistemática e com essa regularidade teria sido tarefa árdua caso a cumplicidade não tivesse ocorrido de forma tão fluída. Desde o primeiro encontro. É uma roda de bar e eles estão ali para, como diria o Edgar, "afinar o humor". A minha presença não poderia ameaçar esse encontro compartilhado há mais de 20 anos. Na tentativa de reduzir o possível desconforto optei pela fotografia analógica, pois ela me limita ao mesmo tempo que me liberta, fazendo com que eu observe mais atentamente o que está acontecendo.

E ao fazer uso de recursos estéticos como colorização manual e imagens sequenciais, me aproximo do "campo", porque parte dos cartunistas está ali no bar criando cartuns, charges e tirinhas com caneta sobre sketchbook - embora estejam bem familiarizados com tablets e editores de imagem digital. Também me aproximo na escolha do equipamento: uma Nikon F2, muito utilizada na década de 70. Optei por ela pois a câmera lhes é familiar e renderia boas conversas remetendo às suas próprias memórias e trajetórias de vida. Diálogos essenciais à pesquisa. 

 

Boemia Lápis e Papel traz fotos de cartunistas em uma mesa de bar. É uma tentativa de fazer fotoetnocartunismo. Ou só foto mesmo.

 

Renata Ibis

 

BOEMIA, PAPEL E LÁPIS 

// fotografia

Revista Bastião | Porto Alegre | 2014

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