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institucional // Nós vemos vocês

  • Foto do escritor: revistabastiao
    revistabastiao
  • 19 de out. de 2014
  • 3 min de leitura

Ilustração: Vitor Teixeira

Nós vemos você, trabalhador, que acorda todos os dias bem cedo e tem uma árdua jornada de trabalho para, muitas vezes, ganhar apenas um salário mínimo, talvez nem isso. Nós vemos vocês, mulheres, que sobrevivem, dia a dia, numa sociedade que sempre lhes disse que vocês são inferiores ao ponto de não terem direito sobre o próprio corpo. Nós vemos você, negro, que luta por uma vida digna enquanto é parado e humilhado por policiais pelo simples fato de ser negro. Nós vemos vocês, gays e lésbicas, cujos direitos mais básicos, cuja segurança, cuja felicidade é tão negligenciada em favor do suposto direito religioso. Nós vemos vocês, travestis e transexuais, cuja identidade é ignorada e descartada, cujo nome o sistema e a sociedade querem apagar. Nós vemos vocês índios e quilombolas, cuja cultura, já tão dizimada pelo homem branco, ainda é considerada como “tudo que não presta” por certos políticos. Nós vemos vocês, invisíveis desse Brasil.

Não somos todos vocês. Não somos todos Amarildo. Não somos todos Cláudia. Não somos todos vadias. Não somos todos, não podemos ser, e não podemos compreender de verdade, por maior esforço que façamos, a extensão dos problemas de todos. Mas nós vemos todos vocês. Nós vemos e não ignoramos. Nós vemos e respeitamos. Nós vemos e lutamos. Lutamos pelo que não somos e pelo que não compreendemos? Sim. Porque acreditamos que todos merecem ter voz, todos merecem reconhecimento, todos merecem dignidade, todos merecem direitos.

Infelizmente, nem todos pensam assim. Infelizmente, alguns pensam que o papel da democracia é garantir que a maioria imponha sua vontade, que passe por cima da minoria, massacrando seus direitos, seus desejos, seus corpos, seus nomes. Isso, meus caros, não é democracia. Não deveria ser, pelo menos.

O resultado dessas eleições mostra, entre outras coisas, que o voto da maioria não tem sido um voto político, cujo termo, em sua origem grega se refere tanto a organização do Estado quanto à própria ideia de comunidade, ou seja, um voto que pensa no bem-estar da coletividade. Tem sido, pelo contrário , um voto individualista, um voto de si para si, em políticos que tomam ações de si para si. Porque um cidadão que votasse de si para o coletivo, jamais elegeria certos candidatos que, muito em breve, estarão governando e representando apenas a si mesmos e as grandes corporações que os sustentam.

A culpa é deles? Sim, em grande parte é. Mas também nossa. Em algum ponto, seja no discurso, seja nas ações de fato, temos falhado. É uma falha de todos nós que os invisíveis, os fracos, os pequenos, os pobres, as minorias, corram o risco de serem ainda mais negligenciadas. É uma falha de todos nós que tenha sido eleita a bancada mais conservadora desde 1964. É uma falha de todos nós falarmos apenas aos nossos pares. É uma falha de todos nós continuarmos na bolha, nesse mundinho ideal, cercados apenas daqueles que pensam como nós.

É hora de enxergar esse outro e fazer ele nos enxergar também.

Política não se faz apenas nas urnas. Política não se faz apenas nas redes sociais. Política se faz em casa. Política se faz nas ruas. Ruas essas que são de todos nós, ruas essas que são e sempre serão do povo, ruas essas que continuaremos a ocupar, ruas essas que usaremos para dar voz àqueles que mais precisam. O Parlamento, o Congresso, a Câmara eles podem até tirar de nós, mas as ruas não.

Seguimos sendo tortos. Seguimos à esquerda. Seguimos contra a correnteza. Seguimos acreditando que todos merecem voz. Construimos essa torre chamada Bastião para a defesa dos direitos daqueles que têm tido suas vozes silenciadas. Seguiremos lutando por uma sociedade menos desigual. A batalha não está perdida, meus caros. Independentemente do que aconteça no próximo dia 26, a batalha jamais estará perdida.

Siga conosco, caro leitor. Temos uma mulher a eleger e ruas a tomar.

 
 
 

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Revista Bastião | Porto Alegre | 2014

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