queer // Por uma Mídia Queer
- revistabastiao
- 20 de out. de 2014
- 2 min de leitura

Autor: André Lacasi
Em sua origem, a palavra queer pode ser traduzida como estranho, excêntrico, raro, até mesmo extraordinário. O termo acabou por adquirir um tom perjorativo na década de 1920, ao começar a ser usada para designar homens homossexuais afeminados. Queer bashing era a expressão utilizada quando se referia aos atos de violência contra gays.
No final dos anos 1980, no entanto, surge a teoria queer com o propósito de retomar as origens do termo, positivando essa conhecida forma de insulto e retirando dele sua potencialidade degradante. "Queer adquire todo o seu poder precisamente através da invocação reiterada que o relaciona com acusações, patologias e insultos" diz Judith Butler, considerada uma das precursoras do movimento.
Passando a entender queer como uma prática de vida que se coloca contra as normas socialmente aceitas, o termo começa a englobar gays, lésbicas, travestis, transexuais, feministas e toda e qualquer forma social que se levanta em combate à heteronormatividade. Por heteronormatividade, termo cunhado pela primeira vez por Michael Warner, em 1991, em uma das primeiras obras sobre a teoria queer, entendemos aqui como um sistema social de reprodução de demandas, expectativas e restrições que tomam a heterossexualidade como norma dentro de uma sociedade.
Partindo desse entendimento, os pesquisadores e ativistas começaram a desconstruir o argumento de que sexualidade segue um curso natural, a dualidade entre macho e fêmea. Uma das maiores contribuições foi a chamada teoria da perfomatividade, afirmando que o gênero é uma performance, resultado de um regime de regulações sociais, hierarquias e coerções.
De forma resumida, poderíamos dizer que essa teoria tenta compreender as repetições normativas, os ritos, que criam sujeitos como resultado de imposições sociais. Ou seja, são os conceitos sociais de feminilidade ou masculinidade que criam e definem o que é ser mulher e o que é ser homem. Portanto, homem e mulher não são conceitos naturais, mas sócio-histórico-culturalmente construídos. E, assim como são construídos, eles podem, da mesma forma, ser desconstruídos.
Da teoria queer tiramos uma grande lição: a crítica ao regime que separa os sujeitos entre normais e anormais, que nos binariza desde o momento em que nascemos e marginaliza todos que não se enquadram nas normas da sociedade. E é essa descontrução que a mídia deve buscar. É essa desconstrução que, como sujeito queer inserido em um veículo de comunicação independente, defendo e sustento. Afinal, a mídia, como um todo, também é um instrumento de reproduções de valores sociais. Daí surge a necessidade de auto análise para compreender que valores estamos reproduzindo em nossos discursos e de que forma podemos derrubá-los, caso estes carreguem consigo preconceitos e normas injustas e inadequadas.
Seguimos na luta por uma mídia queer, uma mídia verdadeiramente livre de imposições sociais.
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